Um amigo veio me visitar e me atualizou sobre sua recente vida de solteiro e das calamidades que tem encontrado por aí na balada e em aplicativo. Ouvi, ri e acolhi cada relato, e confesso que agradeci mentalmente por não estar mais nessa, até que ele me conta do cara que o dispensou por ele ter usado a palavra ‘’ódio’’.
O cara sumiu por dois dias. Meu amigo disse, brincando (ou não), que estava tudo bem, mas tinha odiado o cara por dois dias. E o cara pirou. Ódio? Como assim ódio? Eu não posso me relacionar com quem sente esse tipo de coisa. E sumiu.
Rimos muito, mas depois identificamos os absurdos porque: 1. Chatíssimo.
Foi até livramento. Imagina namorar uma Pollyana Contente em pleno apocalipse.
E 2: Onde esse cara estava nos últimos anos que não está cheio de ódio?
Em algum lugar até entendo, minha avó também não me deixava falar a palavra ‘’ódio’’ dentro de casa. Nem ‘’maldito’’, nem ‘’demônio’’, ‘’diabo’’ e derivados. Por outro lado não consigo deixar de notar a frequente mania das pessoas de querer podar a revolta alheia ou qualquer desconforto que seja porque aparentemente o seu desconforto está deixando o outro desconfortável e precisamos derrotar isso com uma boa dose de otimismo!
Uma vez, na adolescência, comentei com alguém sobre o tamanho da minha testa e o fato dela ser pra frente. Perceba: o FATO dela ser pra frente. Não é uma questão de opinião, de ângulo, de referência. É um FATO. Minha testa é grande e pra frente. É claro que isso já foi uma questão acompanhada de muito bullying na escola e dentro de casa por quase toda a minha infância, mas que já foi resolvida com uma transição capilar que deixou tudo mais proporcional e muitas imagens da Rihanna. A mulher que conversava comigo prontamente se levantou para me defender de mim mesma dizendo: Que isso, Mari! Imagiiiiiinaaaa… Sua testa é perfeitamente normal. Minha senhora, eu tenho olhos e dedos. Minha testa mede um palmo e está tudo bem.
Há também aqueles que se incomodam com seu desânimo, com sua frustração, apatia ou qualquer que seja o sentimento que alguém disse que devia ser evitado e rapidamente resolvido. Por educação costumo agradecer a ajuda, mas a verdade é que eu não sou muito fã de conselhos. Normalmente eu sei o que preciso fazer, eu só não quero fazer. Ou não estou pronta ainda. Às vezes eu só preciso… sentir. Sabe? Reclamar meia hora direto até cansar de mim. Ficar pra baixo até esquecer o motivo. Chorar até entupir o nariz. Assar os olhos. Me olhar no espelho e tomar um susto comigo. E chorar um pouquinho mais depois de ver o meu estado.
Eu fui educada pra não ter tempo de sentir nada porque, segundo minha mãe, o mundo não para porque a gente tá triste e eu seguia soluçando correndo atrás desse ônibus-vida que eu ia perder caso me permitisse sentir alguma coisa. Aos poucos conquistei de volta o meu direito de chorar e depois que aprendi nunca mais fechei essa porteira. Choro, me estresso, me frusto, sinto ódio (desculpa vó!), me permito sentir tudo e estou bem - e viva! por tudo isso, obrigada. Quero continuar assim.
Não me poupe de mim.
📚para ler:
o livro ‘‘Se Deus Me Chamar Não vou’’ da Mariana Salomão Carrara
que na sua primeira página já se tornou minha leitura favorita do ano e entrou para a série ‘‘livros que eu gostaria de ter escrito’’. É simples, bonito, sensível e ela tem maneiras muito interessantes de criar imagens e descrever seus sentimentos.
o livro ‘‘Depois a Louca Sou Eu’’ da Tati Bernardi
é libertadora a forma que Tati sente tudo sem pedir desculpas por sentir. Muito a aprender. Leitura rápida e descomplicada em formato de crônicas, dá pra matar numa tarde!
💌 algumas considerações:
já são quase dois meses escrevendo e compartilhando com constância por aqui! está sendo um ótimo exercício e compromisso comigo e com vocês esse registro de pensamentos.
com isso vem vindo a vontade de crescer e melhorar algumas coisas por aqui, então vem aí as crônicas disponíveis em áudio aqui no substack e no instagram (@marianaolv) e algumas crônicas escritas por outras pessoas que vou adicionar junto da minha.
ah, e caso você não saiba, esse post é interativo! você pode responder esse email e ele virá direto pra mim e fazer um comentário no final do post (é só clicar nos botões verdes pelo post) e ele vai aparecer junto dos outros. você também pode dar um like, mas é só se você gostar de verdade, tá? fica à vontade.
um beijo e até o próximo sábado!
Aprendi com este texto que o mundo não pára, mas que eu posso parar, sentir e seguir até cansar de minha tristeza e voltar a sorrir. 💋
Normalmente a gente já sabe o que precisa fazer, as vezes a gente só está tão sobrecarregado que não sabe por onde começar e desespera. Mas tá tudo bem tbm. E reclamar é importantíssimo, chorar tbm, todos os sentimentos são importantes. Reprimir faz a gente morrer mais cedo. Engasgar com os sapos engolidos e morrer sufocado? Deus me livre.